Se alguém ama uma flor da qual só existe um exemplar em milhões e milhões de estrelas, isso basta para que seja feliz quando as contempla. Ele pensa : Minha flor está lá, em algum lugar...
(Saint-Exupéry)
terça-feira, 15 de maio de 2012
Para Quem Quer Aprender a Gostar
Artur da Távola
Talvez seja tão simples, tolo e natural que você nunca
tenha parado para pensar: aprenda a fazer bonito o seu amor.
Ou fazer o seu amor ser ou ficar bonito.
Aprenda, apenas, a tão difícil arte de amar bonito.
Gostar é tão fácil que ninguém aceita aprender.
Tenho visto muito amor por aí, Amores mesmo, bravios,
gigantescos, descomunais, profundos, sinceros, cheios de entrega, doação e
dádiva, mas esbarram na dificuldade de se tornar bonito.
Apenas isso: bonitos, belos ou embelezados, tratados com
carinho, cuidado e atenção.
Amores levados com arte e ternura de mãos jardineiras.
Aí, esses amores que são verdadeiros, eternos e descomunais
de repente se perceberam ameaçados apenas e tão somente porque não sabem ser
bonitos:
Cobram;
Exigem;
Rotinizam;
Descuidam;
Reclamam;
Deixam de compreender;
Necessitam mais do que oferecem; precisam mais do que
atendem;
Enchem-se de razões. Sim, de razões.
Ter razão é o maior perigo no amor. Quem tem razão sempre
se sente no direito (e o tem) de reinvindicar, de exigir justiça, equidade,
equiparação, sem atinar que o que está sem razão talvez passe por um momento de
sua vida no qual não possa ter razão. Nem queira.
Ter razão é um perigo: em geral enfeia o amor, pois é
invocado com justiça, mas na hora errada.
Amar bonito é saber a hora de ter razão.
Ponha a mão na consciência. Você tem certeza que está
fazendo o seu amor bonito?
De que está tirando
do gesto,
da ação,
da reação,
do olhar,
da saudade,
da alegria do encontro,
da dor do desencontro, a maior beleza possível?
Talvez não.
Cheio ou cheia de razões, você espera do amor apenas aquilo
que é exigido por suas partes necessitadas, quando talvez dele devesse pouco
esperar, para valorizar melhor tudo de bom que de vez em quando ele pode
trazer.
Quem espera mais do que isso sofre, e sofrendo deixa de
amar bonito.
Sofrendo, deixa de ser alegre, igual criança. E sem soltar
a criança, nenhum amor é bonito.
Não tema o romantismo. Derrube as cercas da opinião
alheia.
Faça coroas de margaridas e enfeite a cabeça de quem você
ama.
Saia cantando e olhe alegre.
Recomendam-se:
encabulamentos;
ser pego em
flagrante gostando;
não se cansar de
olhar, e olhar;
não atrapalhar a
convivência com teorizações;
adiar sempre, se
possível com beijos, “aquela conversa importante que precisamos ter”,
arquivar, se possível, as reclamações pela pouca atenção
recebida.
Para quem ama toda atenção é sempre pouca.
Quem ama feio não sabe que pouca atenção pode ser toda
atenção possível.
Quem ama bonito, não gasta o tempo dessa atenção cobrando a
que deixou de ter.
Não teorize sobre o amor (deixe isso para nós, pobres
escritores que vemos a vida como criança de nariz encostado na vitrine, cheia
de brinquedos dos nossos sonhos); não teorize sobre o amor, ame. Siga o destino
dos sentimentos aqui e agora.
Não tenha medo exatamente de tudo o que você teme,
como:
a sinceridade;
não dar certo;
depois vir a sofrer (sofrerá de qualquer jeito);
abrir o coração;
contar a verdade do tamanho do amor que sente.
Jogue pro alto todas as jogadas, estratagemas, golpes,
espertezas, atitudes sabidamente eficazes (não é sábio ser sabido);
Seja apenas você no auge de sua emoção e carência,
exatamente aquele você que a vida impede de ser.
Seja você cantando desafinado, mas todas as manhãs.
Falando besteiras, mas criando sempre. Gaguejando flores.
Sentindo o coração bater como no tempo do Natal infantil.
Revivendo os carinhos que instruiu em criança.
Sem medo de dizer: eu quero, eu gosto, eu estou com
vontade.
Talvez aí você consiga fazer o seu amor bonito, ou
fazer bonito o seu amor, ou bonitar fazendo seu amor, ou amar fazendo o seu
amor bonito(a ordem das frases não altera o produto),
sempre que ele seja a mais verdadeira expressão de tudo o
que você é e nunca, deixaram, conseguiu, soube, pôde, foi possível, ser.
Se o amor existe, seu conteúdo já é manifesto.
Não se preocupe mais com ele e suas definições.
Cuide agora da forma.
Cuide da voz.
Cuide da fala.
Cuide do cuidado.
Cuide do carinho.
Cuide de você.
Ame-se o suficiente para ser capaz de gostar do amore só
assim poder começar a tentar fazer o outro feliz.
Segundo alguns sites, é um Texto
Retirado do Livro de Crônicas de Artur da Távola : "Alguém que já não
fui" - página 149
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"Minha poesia é cheia de imperfeições. Se eu fosse crítico, apontaria muitos defeitos. Não vou apontar. Deixo para os outros. Minha obra é pública." ( Carlos Drummond de Andrade )
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"Minha poesia é cheia de imperfeições. Se eu fosse crítico, apontaria muitos defeitos. Não vou apontar. Deixo para os outros. Minha obra é pública." ( Carlos Drummond de Andrade )